"Homens e mulheres com esperança são gente que arrisca. Arriscar é
acreditar, amar e esperar, tudo junto. A maior segurança está em correr
riscos. Essa é a maior segurança. E converter-se ao futuro é agir na
esperança, manter o espírito aberto, muito desperto, ágil para ler
aquilo que se passa, para fazer recurso a essa memória, para perceber os
prazos e o tempo e apressar-se. Ter esperança é deixar-se sacudir pelo
presente de muita gente sem futuro. Deixar-se sacudir pelas realidades
de gente que não tem esperança. E o facto de ter esperança é acolher
todos aqueles que não têm esperança e fazer da história de hoje um
caminho para o futuro.
A esperança distingue-se de um qualquer optimismo. A esperança não é
uma patetice. É acolher todos os momentos de limite, de situações que
não têm saída, quase de impossibilidade, e acreditar contra toda a
argumentação, todas as razões que nos levariam a não acreditar. Não é
somar tudo e dizer que alguém tem razão para ter esperança. Quando tudo
está mal, muito mal, é que se deve ter esperança, e não o contrário. A
virtude teologal da esperança é quando eu não vejo, mas luto e acredito e
por isso passo a ver.
Há muitas negações da esperança: a tristeza de viver, o fatalismo, o
pensar que está tudo nas nossas vidas. É por isso que desesperamos,
enquanto a via quando estamos nesse fundo, é abrir os olhos para o
telefone, uma carta ou as mãos com o coração e do nosso fundo sabermos
que há alguém que nos escuta. É fundamental podermos ter a certeza de
que haverá sempre um coração que nos recebe. O viver dentro de si, só
para si, sem sair de si é o desespero. E ao mesmo tempo é a presunção.
Desespero e presunção andam muito próximos; no fundo é fechar-se dentro
de si. Todo este sentimento produz a tristeza de viver, o tédio. E neste
fim de século há tanta gente que não abre horizontes e não vai fundo,
fica no superficial, no "chato", sem relevo.
"
In Conversas com ... princípio, meio e fim, AAVV
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